[ESPECIAL] Memórias e transformações: o futebol amador de Curitiba em 8 décadas
No
início deste ano a equipe do Renovicente fez o anúncio do licenciamento das
atividades esportivas antes mesmo da parada referente ao COVID-19, que deixou
estagnado a prática do futebol pelo país. O tricolor do bairro do Santa Cândida
foi a décima quarta equipe a entrar para o hall dos clubes inativos na última
década - licenciou ou foi extinto. A partir disso, o portal DRAP produziu um
levantamento das oito décadas da Suburbana - Série A, B e C; para pontuar as
equipes que estão inativas no cenário do futebol amador de Curitiba e também
apontar a transformação que acontece no âmbito do futebol amador. A quantidade
de clubes inativos chega a superar o número de 140 equipes somadas as oito
décadas.
#AMADOR
CURITIBA
Por
@rafaelbuiar
O futebol amador de Curitiba teve a
sua origem em 1917, com a criação da Liga Sportiva Municipal (LSM). O certame
constou com a participação de sete escretes na primeira edição, que terminou
com a equipe do Esperança sendo a campeã naquela oportunidade. Desde então, o
futebol varzeano da capital paranaense viveu e teve várias denominações na
liga, no total 23, até chegar em 1941, quando, em definitivo, estabeleceu o
padrão que segue até os dias atuais e com a organização da Federação Paranaense
de Futebol (FPF). No ano de 1948, a entidade máster do
futebol paranaense (FPF) criou o departamento do amador. A partir disso, o
cenário no futebol da capital paranaense passou a ter três divisões, sendo que
a primeira era destinada aos times profissionais, enquanto que a segunda e
terceira eram referentes aos amadores. Mas essa não foi a única grande mudança
no cenário do futebol amador de Curitiba, pois na década de 1960 aconteceu o
primeiro divisor de águas na Suburbana.
Período em que teve quase 50 equipes
extintas. O grande número foi pela exigência proposta aos clubes, considerada
como um início à modernização na competição e proporcionando um falso
amadorismo. Na época as três divisões somavam em média 63 equipes na temporada,
com o ápice nos anos de 1963 e 1964, que tiveram 74 equipes somadas as séries
A, B e C. Já em 1969, o número foi de 48 equipes, sendo essa a menor quantidade
de clubes na década somadas as três divisões. O ano de 1964 a Série B não foi disputada, pois aconteceu a reclassificação para as próximas temporadas. Sendo assim, a Série A teve 29 equipes, enquanto a Série C teve 46 times na disputa pelo acesso. Essa situação fez com que a temporada de 1965 tivesse apenas 53 equipes somadas as três séries.
O radialista José Domingos que
acompanha o futebol amador de Curitiba desde 1953 comentou a situação e apontou
o que pode ter dado influência em relação ao grande número de equipes extintas
neste período. “Na década de 1960 realmente houve a transformação com a criação
da primeira divisão de amadores com determinadas exigências aos participantes
da segunda e terceira. Com o passar dos anos a cidade foi crescendo e a
especulação imobiliária foi forçando o desaparecimento dos campos. Por isso, muitos
times se uniram às fusões e outros simplesmente sumiram. As mudanças podem ter
tido influência nas formas de disputas, mas entendo que outros fatores como
citado anteriormente tiveram participação mais efetiva", relembra José
Domingos.
As exigências, segundo a matéria
publicada no jornal Tribuna do Paraná em 18 de janeiro de 2013 e assinada pelo
jornalista Levi Mulford, foram muros externos, alambrados e túneis de acesso na
divisão principal, enquanto que para as divisões inferiores a exigência foi
cerquinhas internas nos campos. A equipe que puxou a fila foi o Operário Ahú,
detentor de seis títulos da Série A. "O Operário do Ahú enquanto
participante dos campeonatos amadores formou excelentes equipes e por isto os
seguidos títulos. Revelou inúmeros jogadores que foram para equipes
profissionais. Iria longe citando jogadores que saíram do Operário Ahú para
equipes do profissional. Alguns astros inclusive chegando à seleção estadual.
Não sei precisar com exatidão o porque o clube deixou o futebol de lado, mas a
fusão com a Sociedade Cultural Ahú deu origem ao clube União Recreativa
Cultural Ahú, conhecido como URCA. Esse foi um fator preponderante com certeza.
Por tratar-se de um vitorioso foi mesmo estranho o afastamento do Operário do
Ahú do futebol", comenta Zé Domingos.
O reflexo das exigências também
impactou na década seguinte, que teve 26 equipes extintas. Dentre elas, o
alvinegro da Mercês - Botafogo, que foi campeão da Série A em 1953. Além de Ipê
e Guaíra, que juntos levantaram seis canecos, sendo que cinco foram na Série B
e um na Série C. Confira o quadro de números da quantidade de equipes que foram
extintas nas últimas décadas. Consideramos os times ativos ao virar a década. ex. 1949, 1959, 1969 e assim por diante até 2019.
No início deste ano, o portal Do Rico
ao Pobre conversou com Regina Taborda, dirigente do Renovicente, em relação ao
licenciamento das competições da FPF. Em 2019 o tricolor do Santa Cândida apostou
em uma equipe sub-20 para a disputa da Série B na categoria adulta e o clube
teve a pior campanha de sua história, terminando o campeonato na última
colocação entre os 20 participantes. A dirigente do Renovicente alegou
dificuldades dentro e fora dos gramados e a parada foi necessária e também alegou
incerteza sobre o futuro. “Não há no momento nenhum prazo de retorno para as
atividades futebolísticas no clube”, finaliza.
Outra equipe que esteve presente no
cenário do futebol amador em Curitiba na última década foi a Associação
Beneficente Esportiva Flamengo, do bairro Santa Felicidade. Em conversa com
Alceu, presidente do Flamengo no início deste ano, o retorno do escrete
rubro-negro cogitado para 2020 não concretizou. A equipe rubro-negra alegou que
não tem condições financeiras de pagar a multa pelos quatro anos de
licenciamento da FPF. O valor chega a dez mil reais, segundo o mandatário do
rubro-negro de Santa Felicidade.
Renovicente e Flamengo são alguns dos
exemplos dentre os 143 clubes inativos da Suburbana. A partir disso, o portal
Do Rico ao Pobre pesquisou e encontrou informações de 79 escretes em relação ao
zoneamento na capital paranaense – bairros. As regiões mais atingidas foram as
zonas norte, sul e oeste, com 17 equipes inativas cada uma, enquanto que a
região central teve 16 e a leste 12. Ao comparar com o cenário atual, a região
que mais tem clubes ativos é a sul, com 11 equipes, enquanto a Oeste tem nove,
a norte cinco, a central quatro e a leste com duas equipes. Tendo em vista que
as regiões sul e oeste são as que tem o maior número de população e
proporcionou um número elevado de equipes e também de transformação ao comparar
com as outras regiões.
Ao questionar sobre as regiões de
Curitiba, Zé Domingos pontua as transformações que Curitiba foi passando neste
período. O desenvolvimento da cidade promoveu mudanças também no futebol amador
de Curitiba. “As mudanças das características dos bairros e a chegada de novos
moradores fez com que as famílias tradicionais que faziam o modo de vida se
deixassem levar por transformações e estas tiveram influência decisiva no
caminho para que clubes se mantassem no cenário. Alguns conseguiram seguir,
outros não”, finaliza Zé Domingos.
Outro ponto que o levantamento
apresentou foi a informação do número de certames disputados das equipes
extintas/licenciadas. Selecionamos os 10 escretes que mais disputaram, somadas
as três divisões. Dentre elas, a equipe do Caxias, que disputou 46 vezes a liga
de Curitiba, a sua maioria na série B e a última vez foi recente, em 2018. Além
disso, o rubro-negro do Boqueirão foi campeão sete vezes na Série B da
Suburbana. Na sequência, o time do Olaria, situado na região oeste de Curitiba, esteve presente em 43 certames, e também, em sua maioria disputou
a Série B da Suburbana. Das 143 equipes, 64 disputaram 10 ou mais vezes as
competições do cenário do futebol amador de Curitiba. Confira 10 equipes
extintas/licenciadas que mais vezes disputaram a Suburbana.
APOIE
O PROJETO DRAP - Queremos dar voz para o futebol
marginalizado e mostrar a transformação que este esporte é capaz, em diversas
atmosferas – amador, base e feminino. Conheça a nossa campanha de apoio
colaborativo na @catarse; - http://catarse.me/drap

Post a Comment