[FEMININO] Do amador de Curitiba à Seleção, Joicinha dedicou a vida ao futebol feminino
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#FUTEBOL FEMININO
Por Daniel Tozzi
Quando
começou a disputar os primeiros campeonatos em Curitiba, a ideia de ser
jogadora profissional sequer passava pela cabeça da então adolescente Joice
Luz. Joicinha, como ficou conhecida no mundo da bola, cresceu no bairro
Augusta, extremo-oeste da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), e seus primeiros
passos no esporte foram dados jogando futebol de areia no Esporte Clube Caiuá e
no Olaria. Mesmo depois do debute no campo, pelo Ypiranga, Joicinha demorou
para encarar o futebol como um sonho a ser perseguido e tampouco como
possibilidade de fazer disso seu sustento. “Não era algo que eu me via fazendo
quando me tornasse adulta, como profissão. As coisas foram acontecendo
naturalmente. Sempre gostei de jogar, mas no começo eu não olhava muito na
frente, nem traçava metas”, explica.
Em
1998 Joicinha recebeu um convite para jogar pelo União Ahú, já tradicional na
cena de futebol amador feminino do Paraná. Na equipe, atuou por dois anos e foi
bicampeã estadual, em 98 e 99. “Quando fui para o Ahú eu ainda era muito nova,
e o clube já tinha um nome a zelar, com jogadoras conhecidas e conquistas
importantes. Mas logo consegui meu espaço como titular e foi um tempo de muito
aprendizado”, relembra a jogadora, que chegou à equipe com apenas 15 anos e na
época atuava como meia-atacante. “A estrutura para época era boa, não
recebíamos dinheiro, mas também não tínhamos gastos. Foram dois anos ótimos e
com muitas viagens, num período em que o campeonato paranaense tinha muitas
equipes e era bastante disputado”, acrescenta.
MUDANÇAS -
Depois das conquistas no Ahú, Joicinha passou a vestir as cores do Novo Mundo,
disputando campeonatos na categoria adulta e na equipe sub-17 do clube da zona
Sul da capital. Após uma rápida passagem pelo Colombo para a disputa da Copa
Sul-brasileira de futebol feminino de 2001, Joicinha retornou ao Novo Mundo,
onde jogou até 2002. E foi nesse ano que o destino fez com que a curitibana
ainda menor de idade atravessasse o Paraná e desembarcasse na cidade de Santos.
“Um empresário chamado Manuel veio para Curitiba levar a Miriam, que jogava
comigo no Novo Mundo, para o Santos. Por coincidência, esse mesmo empresário
agenciava um jogador chamado Pindoka, que tinha me visto jogar um torneio no
interior do Paraná e comentado sobre mim para o Manuel. E a Miriam também tinha
elogiado uma colega de equipe para o seu Manuel que no caso era eu”, conta.
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Com
18 anos Joicinha passou a fazer parte do plantel da equipe feminina do Santos,
que entre 2002 e 2008 também representava a cidade vizinha de Itanhaém em
competições oficiais. “A prefeitura dava alimentação, moradia e ajuda de custo
e, em troca, defendíamos a cidade em jogos regionais e no campeonato paulista”,
explica. “Treinávamos forte em dois períodos, e foi aí que eu comecei a
perceber que levava jeito para a coisa”, acrescenta Joicinha, que nesse período
deixou de jogar como atacante. “Acharam que eu corria demais e me colocaram na
lateral-esquerda”, comenta Joicinha.
NO TOPO DA AMÉRICA - A
consolidação da carreira no futebol feminino profissional veio a partir de
2008, quando o investimento do Santos na modalidade passou a ser maior. Além do
elenco já formado anos antes, o clube trouxe estrelas do quilate de Marta e
Cristiane. “O Santos era a nata do futebol feminino na época. Tínhamos vários
patrocínios e também passamos a receber melhor, houve um salto na valorização
das jogadoras”, relembra Joicinha. Ao lado desse elenco, a curitibana foi
campeão paulista, da Copa do Brasil e de duas Libertadores da América, além de
ter convocações para a Seleção principal. Detalhe: foi justamente nesse período
que Joicinha passou pela experiência da maternidade.
“Descobri
que estava grávida no final de 2008, já com quase seis meses de gestação. Me
afastei do futebol durante o período final da gravidez e o tempo necessário
após o parto. Quando meu filho tinha dois meses voltei para a academia e, três
meses depois, para a rotina dos treinos. Posso dizer que voltei a jogar melhor
do que antes, e com um ânimo a mais”, celebra. Mesmo em meio às dificuldades,
Joicinha é enfática: “Sempre vi minha profissão como um trabalho comum, em que
a mulher precisa sair de casa e encontrar maneiras de conciliar a vida
profissional com a vida de mãe”, acrescenta a lateral Joice Luz.
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Depois
da saída do Santos em 2011, Joicinha ainda disputou um campeonato carioca pelo
Bangu e, entre 2011 e 2015, atuou pelo Vitória de Santo Antão, de Pernambuco.
Antes da aposentadoria oficial, a lateral retornou para Curitiba e ainda atuou
pelo Capão Raso. Longe do futebol de campo desde 2015, a distância das
competições oficiais durou pouco, e Joicinha passou a jogar Futebol de 7 por
equipes de Curitiba e da Região Metropolitana. Desde 2019 joga pelo Santa Cruz,
time da capital, e também é presidente do F.A.C Sport Club Campo Largo, que disputa
campeonatos masculinos da modalidade.
ESCOLHAS -
Com mais de 25 anos de dedicação ao esporte, Joicinha pode falar com
propriedade da realidade do futebol feminino no país. Para ela, o cenário no Paraná não acompanhou
as melhorias que ocorreram de um modo geral em todo o Brasil nos últimos anos.
“Aqui ainda temos poucas equipes disputando o campeonato estadual. Em Curitiba
temos o Imperial lutando incansavelmente para manter o time e a boa iniciativa
do Athletico que montou sua equipe, mas no cenário nacional vejo que houve um
avanço maior, tanto na questão da visibilidade quanto nos investimentos dos
clubes nas categorias principais e na base”.
E
é justamente na (falta de) categorias de base que Joicinha enxerga a principal
dificuldade que o futebol feminino ainda enfrenta. De acordo com ela, os
primeiros passos na carreira de um atleta deveriam vir juntos com a formação
dos jovens enquanto cidadãos. “Nem todo atleta de base se torna jogador, mas é
importante que ele tenha conhecimento e opções suficientes para saber qual
carreira escolher. Infelizmente no Brasil, muitos abandonam a escola para jogar
futebol”, explica. “Além disso, a carreira é muito curta, e o que as atletas
farão depois?”, indaga a ex-jogadora, que durante seu período no Santos se
formou em Administração.
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Joicinha
ainda destaca a vantagem que uma boa categoria de base pode proporcionar às
jogadoras quando se tornam profissionais. “A formação de atletas de alto
rendimento começa muito cedo e é na base que devem ser trabalhados os
principais fundamentos para que mais tarde trabalhos individuais de correção de
falhas técnicas não sejam necessários”, reflete a ex-jogadora. “Uma menina
geralmente começa a jogar com mais de 15 anos. Nessa idade os meninos já estão
sendo levados a patamares maiores de aperfeiçoamento, enquanto as meninas ainda
estão na fase de aprendizagem e muitas vezes já possuem vícios, que sabemos que
serão mais difíceis de mudar”, finaliza.

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