[ESPECIAL] Há quase seis anos, Orleans quebrou tabu de duas décadas e conquistou a Suburbana pela segunda vez
Qual
o peso de 20 anos? Às vezes pode ser uma eternidade, como se uma bigorna caísse
sobre a sua cabeça. Ao mesmo tempo, quando se consegue o objetivo, esse peso
sai de forma leve, tal qual um tapa de mão esquerda para defender o pênalti
decisivo. Foi assim com o União Nova Orleans, que em 2014 venceu a Série A da Suburbana após duas décadas. Uma história marcada pelas
reviravoltas ao longo da competição.
#ESPECIAL
Do Alviverde que começou
aquela temporada, goleando o Urano por 6 a 2 no Manecão, cinco dos 11 titulares
não atuaram no terceiro e decisivo jogo disputado na Vila Capanema. Nem mesmo o
treinador que esteve na Vila São Pedro se manteve até o fim do campeonato. O Orleans iniciou a
Suburbana com o experiente Rinaldo Lisboa no comando, mas após duas derrotas em
casa nas rodadas seguintes, contra Iguaçu e Bangú, o técnico optou por deixar o
clube da Zona Oeste.
Com isso, apareceu uma
oportunidade para o então auxiliar Alexandre Oliveira, que jogou em vários
clubes amadores, ter o primeiro trabalho como treinador na Suburbana. “A
diretoria pensou em buscar outro nome, mas como era início de campeonato a
maioria dos treinadores estavam empregados. Quando os jogadores souberam,
falaram que seria melhor que eu continuasse o trabalho”, relembra Oliveira.
O treinador recorda o dilema
que viveu antes de fazer a escolha. “Medi todas as consequências. Era um time
de Divisão Especial, com tradição e que não ganhava há 20 anos. Mas também era
a chance de se destacar no cenário amador, então resolvi encarar o desafio”,
afirma Alexandre.
A preocupação do técnico se
comprovou em campo, já que o time demorou para engrenar no campeonato. Oliveira
estreou no comando com triunfo frente ao Novo Mundo na Arena Vermelha, mas na
sequência três derrotas seguidas, duas delas no José Drulla Sobrinho. O elenco sabia que precisava
dar uma resposta restando quatro rodadas para o fim da primeira fase. Após uma
semana sem jogos devido ao feriado de Independência, o UNO iria encarar a
surpresa do torneio até então, o Renovicente. “Essa partida foi o divisor de
águas para nós, porque uma vitória nos deixaria na luta pela classificação e com
uma derrota brigaríamos para não cair. O time do Orleans tinha muita
personalidade, para o bem e para o mal, mas naquele momento o elenco focou no
objetivo e fez por onde”, destaca o técnico.
O 4 a 0 aplicado na equipe do
Santa Cândida mudou a história do Orleans naquela Suburbana. A equipe emplacou
outras duas vitórias na sequência e um empate contra o Trieste, terminando a
primeira fase na quarta posição. O regulamento previa uma nova fase, dividindo
os oito classificados em dois grupos. O Alviverde iria encarar Vila Hauer e os
dois italianos, Iguaçu e Trieste.
Mudanças
na equipe e prova de fogo nas semifinais
A essa altura, o Orleans já tinha um
time mais semelhante ao que entrou em campo na Vila Capanema. Passando a
treinar duas vezes na semana a partir da segunda fase, o Alviverde tinha como
destaque a qualidade no meio-campo, com Juliano, que vinha de um rebaixamento
com o União Ahú no ano anterior, e Giovani, conhecido por integrar o time do
Urano multicampeão entre 2008 e 2009.
Outro ponto importante da
base campeã foi o zagueiro Du, que por pouco não participou daquele elenco. “Na
verdade, em 2014 eu não iria jogar a Suburbana, mas de tanto os meus amigos me
cobrarem na época (Paulinho Alves, Alex, Alan e o Diretor Maicon), acabei indo
pela parceria”, recorda o zagueiro. Du lembra o caminho até
chegar a titularidade. “Comecei como terceira opção na zaga, às vezes nem banco
pegava, na época jogava o Márcio e o Erick. Uma vez o Erick saiu por causa do
terceiro amarelo e outro zagueiro não foi por problemas de saúde, aí entrei pra
nunca mais sair (risos) ”, detalha o beque.
O Orleans fez o básico
naquela segunda fase: evitou ao máximo perder pontos para os adversários que se
classificaram abaixo dele na tabela da primeira fase. Venceu duas vezes o Hauer
e conquistou quatro pontos nos jogos contra o Trieste. Mesmo perdendo as duas
para o Iguaçu, avançou na segunda posição para fazer o clássico contra o Santa
Quitéria nas semifinais. O favoritismo estava do lado
Auriverde, que havia vencido 13 dos 18 jogos na competição, com uma derrota
solitária para o Pilarzinho na segunda fase. A curiosidade é que o Santa Quitéria
só se classificou em primeiro nessa disputa devido ao ponto extra que ganhou
pela melhor campanha na primeira fase. Do contrário, Orleans e Pilarzinho
teriam se encontrado mais cedo.
Fato é que o Alviverde
entrava como franco atirador, e o elenco soube usar isso. “No primeiro jogo
contra o Quitéria fomos inteligentes porque jogamos a responsabilidade pra eles
pelos números até o momento”, comenta Du. O Nova Orleans venceu o Quitéria no
José Drulla Sobrinho por 2 a 1 e levou uma vantagem para o jogo da volta.
O adversário precisava
vencer para levar a decisão as penalidades. “O jogo no Maurício Fruet foi uma
guerra, torcida Taliban em peso e eles precisavam tirar a diferença. Só que o
nervosismo dos caras foi atrapalhando eles e construindo a nossa vitória”,
afirma Alexandre. Com gols de Juliano e Paulinho Alves em falta antológica, o
Verdão da Zona Oeste estava a dois (ou três) passos do paraíso.
Decisão
equilibrada e título na “Vila do Povo”
A notícia logo chegou no vestiário alviverde. O adversário do Orleans na final seria o Operário Pilarzinho e não o Iguaçu, melhor campanha da Suburbana e que havia vencido os três duelos contra o UNO naquela edição. “Ficamos chocados porque o Iguaçu vinha fazendo um ótimo campeonato. Contra o Pilarzinho sabíamos que o jogo seria de igual pra igual, difícil pois perdemos pra eles na primeira fase, mas um duelo mais equilibrado em relação ao Iguaçu”, analisa Oliveira.
A notícia logo chegou no vestiário alviverde. O adversário do Orleans na final seria o Operário Pilarzinho e não o Iguaçu, melhor campanha da Suburbana e que havia vencido os três duelos contra o UNO naquela edição. “Ficamos chocados porque o Iguaçu vinha fazendo um ótimo campeonato. Contra o Pilarzinho sabíamos que o jogo seria de igual pra igual, difícil pois perdemos pra eles na primeira fase, mas um duelo mais equilibrado em relação ao Iguaçu”, analisa Oliveira.
Essa dificuldade apareceu já
no primeiro jogo, com o Tricolor abrindo o placar com Herlon aos 18’ do
primeiro tempo e na sequência uma atuação de gala da defesa do Pilarzinho e,
principalmente, do goleiro Jura, que garantiu o 0 a 1. O apito final no José Drulla
Sobrinho marcava o início da semana mais demorada e apreensiva para aquele
elenco do Orleans que, assim como no decorrer do campeonato, precisaria se
reinventar mais uma vez para seguir com chances de título. “Foi uma semana
horrível, conversamos muito sobre nossos erros. Chegou uma informação pra nós
de que no Pilarzinho os caras já tinham mandado fazer camisa de campeão. Tenho
certeza que foi a motivação que precisávamos, por isso atropelamos na casa
deles”, relembra o zagueiro Du.
Foi uma partida
inesquecível, com a marca daquele que viria a ser o craque da competição.
Marcando aos 38’ do primeiro tempo e aos 30’ da etapa final, Juliano comandou a
equipe, e com Victor Tilly marcando aos 37’ do segundo tempo o Orleans goleou
por 3 a 0 e levou a decisão para um jogo desempate, disputado quatro dias
depois na Vila Capanema.
Como não havia muito tempo
para treinar entre um jogo e outro, Oliveira fez um trabalho leve nesse
período, mas algo que seria vital para o terceiro e decisivo duelo. “Antes da final,
todos foram treinar pênaltis, os dois goleiros e os atletas de linha, pelo
menos 10 cobranças. No fim, acabou sendo o diferencial”, afirma o treinador.
Foi um jogo peleado, com o
Pilarzinho abrindo o placar com Bitoca aos 19’ de jogo e Giovani empatando em
um toque categórico de perna direita nos acréscimos da etapa inicial. O Alviverde
teve algumas chances de vencer na segunda etapa, e chegou a ficar com um a mais
em campo no final, mas a disputa teve de ser decidida na marca da cal.
Assim como em toda a
temporada, nas penalidades mais altos e baixos. Juliano e Alan abriram 2 a 0
para o UNO devido aos erros de Bitoca e Molão. O goleiro Rogério também
converteu, mas Buiu e Tonton pararam no arqueiro Jura e com gols de Robson
Baroni, Thomas e Batista houve mais uma dose de sofrimento nas cobranças
alternadas. Vinicius converteu para o
Orleans, e a pressão foi toda para Thiago Gbur. Rogério ficou no centro do gol,
estático, poupando energia para voar no seu canto esquerdo e empurrar 20 anos
de sofrimento para longe da zona oeste.
Festa na Vila Capanema e na
Nova Orleans. Um título com várias caras, mas que pode ser resumido em nome e
sobrenome. “Me sinto honrado de ter dado o título para nosso querido e eterno
presidente Mário Lipinski. Só nós sabíamos o quão maravilhoso ele era”, relata
Du.
Foi o último capítulo
glorioso da extensa história de amor entre Orleans e Mário, que faleceu em
agosto de 2016. “Mário Lipinski foi a pessoa mais importante que o clube já
teve. Ele não tinha esposa, acho que não tinha filhos, o Orleans era a família
dele. Quando fomos campeões vimos a alegria no semblante dele, então o título é
dedicado ao nosso eterno presidente”, arremata Alexandre Oliveira.
Um enredo cinematográfico de uma equipe que passou por bons e maus momentos, mas que sempre resolveu quando a situação apertou. Afinal, citando William Shakespeare, “A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem”. Um time que jogou com o coração, algo que a Suburbana exige todas as vezes que alguém entra em campo pra vencer. E que vitória foi essa!
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