Levi Mulford, o guardião da história esportiva de Curitiba e do Paraná
Em
matéria de futebol amador e futebol paranaense, ninguém conhece mais do que
Levi Mulford. O cronista, que também desfilou sua categoria como atleta, possui
um acervo impressionante sobre a história do esporte local e é um dos mais
importantes nomes da imprensa esportiva nacional.
#ESPECIAL
Por Yuri Casari
Mal encostamos o carro paralelamente
ao meio-fio e imediatamente apontou na porta aquele senhor de face serena para
nos atender. Estávamos diante do mais importante jornalista esportivo de
Curitiba. Levi Mulford Chrestenzen nos recebeu em sua casa no Pilarzinho em uma
tarde no final do mês de julho. Ao entrarmos, Levi já nos direcionou a uma
escadaria. Descemos dois lances de degraus até chegar a um aconchegante e
ajeitado porão onde possivelmente está o maior acervo da história do futebol de
Curitiba e paranaense. Logo de cara, duas fotografias do extinto Bacacheri
Atlético Clube, time amador do coração de Levi, que fez parte das fileiras da
equipe.
O impacto é instantâneo. Estar diante
daquele amontoado de jornais, revistas, fotos e outras publicações encadernadas
é empolgante. A cada passo, uma nova descoberta. De boca aberta, tentávamos
resistir à tentação de não passar horas folheando página por página. Então,
sentamos à mesa de trabalho de Levi e conversamos por cerca de duas horas, parando
algumas vezes para passear pelas prateleiras, revivendo as grandes memórias do
futebol amador paranaense. Em meio aos arquivos, algumas camisas, medalhas e
prêmios em reconhecimento ao histórico do cronista.
Mas embora estivéssemos feito crianças
em um parque de diversões, nossa missão era contar um pouco da história do
decano da imprensa esportiva local. De
poucas palavras, Levi usou seu arquivo para contar a própria trajetória. Neto de italianos e dinamarqueses, nasceu em
6 de julho de 1929, no bairro Juvevê, em uma época bem menos urbana da capital
paranaense. Levi cresceu em um tempo que o futebol da cidade estava em
efervescência, com muitos clubes na região central e com uma organização cada
vez mais desenvolvida, culminando com o início da Liga Suburbana, em 1941.
Desde a adolescência, passou a jogar futebol como ponta-direita em diversas
equipes amadoras, como o CA Comercial (antigo Palestra Itália), o Operário Ahú,
o Bacacheri AC, o Botafogo das Mercês, entre outros, jogando até meados de
1970.
Por muitos anos, Levi dividiu a função
de jornalista e atleta. O maior feito como atleta, de acordo com ele mesmo, foi
ter atuado na categoria aspirantes do Coritiba, em 1947, junto de vários
jogadores que depois se tornaram profissionais no Alviverde, clube do qual é
torcedor. Naquele ano, Levi foi campeão do Paranaense de Aspirantes,
contribuindo para que o Coxa ganhasse a alcunha de “Campeoníssimo”, por ter
conquistado o estadual das quatro categorias existentes na época. Também
recebeu o Prêmio Belfort Duarte, distinção dada a atletas que tivessem mais de
200 jogos em 10 anos, sem receber expulsões. E todos os detalhes de cada
partida em que Levi atuou, desde 11 de fevereiro de 1945, estão em pequenos
cadernos, com minuciosos relatórios e cuidadosas ilustrações feitas à mão.
Em outubro de 1956, Levi foi
contratado pela Tribuna do Paraná, jornal diário que havia acabado de nascer,
após passagem no Paraná Esportivo. “Fazia um romance a cada matéria. Mas
também, tinha espaço no jornal” diz saudosamente. No início, ia de bicicleta
percorrendo a cidade atrás das informações. E diariamente, em um trabalho que
realiza até hoje, fazia um clipping artesanal, guardando e arquivando
ordenadamente tudo o que julgasse relevante. Seu acervo de fotos próprias também
é imenso, e não são dedicadas exclusivamente ao futebol, ajudando a contar
também a história da cidade. Em 1960, conheceu a Edite, durante uma partida no
campo do extinto Primavera. E com ela vive até hoje, após se casar em 1967.
Teve três filhos e cinco netos.
Durante toda sua carreira, Levi
acumulou não apenas recortes de jornais, mas também muitas amizades. Algumas
parcerias, com mais de 40, 50 anos de história. Como com o fotógrafo Irineu
Horbatiuk, companheiro de Tribuna, o professor e historiador Heriberto Ivan
Machado, autor de alguns livros em parceria com Levi - entre eles a
enciclopédia “Futebol do Paraná - 100 anos de história” - e com o radialista
Mussum, que por coincidência, apareceu durante nossa visita, trazendo em mãos
mais alguns arquivos para o acervo do amigo.
Atualmente, o maior especialista de
futebol amador do estado vive afastado dos gramados suburbanos. O compromisso
com sua coluna na Tribuna do Paraná faz com que ele tenha que ficar atento ao
rádio e à internet durante as tardes de sábado, para enviar o quanto antes os
resultados e seus comentários para o fechamento do jornal. Antigamente, o
diário fornecia carro e motorista para que Levi pudesse realizar as reportagens
in loco. Sinal dos tempos. Perguntado se sentia saudades de assistir aos jogos,
não foi preciso sequer usar palavras. O movimento afirmativo com a cabeça e o
brilho no olhar evidenciou o sentimento de alguém que há mais de 7 décadas vive
o esporte amador com toda dedicação e que construiu um legado inspirador a
todos os que fazem parte deste universo apaixonante que é a Suburbana e o
Futebol Paranaense.
GALERIA DE FOTOS (Dudu Nobre) XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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