Da Escola Coxa à Seleção Brasileira: Thais Reiss, exemplo de sucesso em meio ao descaso do futebol feminino curitibano
Aos 17 anos, a lateral-esquerda Thais Reiss é uma das grandes promessas da próxima geração do futebol feminino nacional. Convocada recentemente para a Seleção Brasileira sub-20, a atleta conversou com o site Do Rico ao Pobre sobre sua carreira, os desafios em busca do profissionalismo na modalidade e a falta de apoio do futebol local.
#ENTREVISTA
Por Yuri Casari
Que o futebol feminino no
Brasil não possui as condições necessárias para evoluir, isso já é de notório
conhecimento. Mas no Paraná, e em especial em Curitiba, a negligência é
espantosa. Enquanto a nível nacional regulamentações estão sendo criadas em
busca do fomento da modalidade, no Paraná apenas o tradicional Foz segue firme
na manutenção do futebol feminino. Já são três anos sem a disputa do Campeonato
Paranaense, e times que antes eram fortes, hoje não possuem mais equipes
femininas, como o Novo Mundo.
É claro que isso dificulta
a prospecção de talentos. Mas este foi um empecilho superado pela curitibana Thais
Reiss, que conseguiu alcançar um sonho de muitos: vestir a camisa
da Seleção Brasileira. Apaixonada por futebol, Thais começou cedo a correr
atrás da bola. “Eu comecei a jogar futsal na escola aos 7 anos, por diversão
mesmo, foi algo que sempre gostei”, conta Thais. Posteriormente, fez parte da Escolinha do Coritiba no bairro Abranches, onde começou a se destacar,
mesmo treinando no meio dos meninos. Com isso, passou a participar de seletivas
realizadas pela CBF, chamando a atenção do técnico Luiz Antônio Ribeiro, e recebeu
sua primeira convocação, para a categoria sub-15. “A partir dali eu decidi que
eu queria jogar futebol como profissão”, afirma.
Com dedicação exclusiva
ao futebol, a evolução se tornou natural. A consequência foi seguir sendo
convocada para a Seleção, dessa vez para a categoria sub-17. No ano
passado, Thais fez parte da delegação que disputou o Mundial da categoria, na
Jordânia. Thais participou da partida de estreia do Brasil, a
vitória por 1 a 0 sobre a Nigéria. “Foi incrível, um sentimento único que só
quem já passou sabe como é. Ter a oportunidade de jogar uma Copa do Mundo é
algo maravilhoso. Foi uma experiência muito grandiosa para todos nós”, destacou
a atleta.
Para 2017, não haverá
competições continentais ou mundiais para as categorias sub-17 e sub-20, mas
Thais já tem o que comemorar. Mesmo ainda tendo apenas 17 anos (ela é de 1999), a
lateral foi convocada para a sub-20, onde já realizou treinamentos na Granja
Comary. “É sempre um sentimento de orgulho poder representar meu país, fiquei
muito feliz pela convocação, principalmente por ter subido de categoria porque
significa que o meu trabalho realizado na sub-17 foi bom”, afirma Thais,
que também exalta o trabalho feito na Seleção. “Na Seleção nós temos tudo, é
outro mundo quando se compara com clube. Aqui (no Coritiba) eu treino
com os meninos, pois não tem time feminino. Eu
tenho que fazer treinos por fora para manter. Além de jogar no Coritiba eu faço
atletismo e academia, além de ter que fazer alguns treinos em casa. Na Seleção
a CBF nos oferece tudo que precisamos”.
Com personalidade, Thais também analisou a falta de
apoio do futebol local. “Para falar a verdade, não tem futebol feminino aqui no
Paraná. Se for parar para pensar, tem apenas o Foz. Não tem apoio, incentivo,
não tem nenhum time que invista no futebol feminino assim como ocorre em São
Paulo, por exemplo. É difícil que o futebol feminino cresça por aqui quando não
se tem o mínimo de apoio”, avalia.
Além de lateral-esquerda,
Thais também é escalada muitas vezes para fazer a função de meio de campo. Para
ela, o importante é estar no gramado. “Eu gosto muito de jogar na lateral, me
sinto confiante. Gosto de atuar na defesa, mas uma das minhas maiores
qualidades é o ataque surpresa pelas laterais, eu tenho uma boa resistência, então
isso acaba me ajudando muito pelo fato de ter que ir e voltar o tempo todo. Mas
gosto também de jogar pelo meio, de armar as jogadas. Tenho uma boa visão de
jogo, o que facilita quando estou jogando pelo meio”, analisa Thais, que conta
quem são suas inspirações no futebol feminino. “A Marta é o espelho de todas as
jogadoras, mas tenho como espelho de atleta a Formiga. Tive a oportunidade de
treinar com ela em um período de convocação na Granja Comary, foi uma
experiência única. Ela corre sem parar, dá o máximo a cada dia, parece que não
cansa. Ela tem muita força de vontade, muita garra e determinação, ela é
incrível”, destaca.
Sem competições neste ano pela
Seleção, Thais já planeja o futuro, que a princípio, será fora do país. “Em julho
vou para os Estados Unidos fazer faculdade e jogar lá, está praticamente tudo
certo, mas sempre foi um objetivo. Quero estar no Sul-Americano e no Mundial
sub-20 do ano que vem pela Seleção. E mais pro futuro, ter a oportunidade de
chegar na principal e jogar por um time na Europa ou nos Estados Unidos”,
finaliza a jogadora, que a julgar pelo que já foi conquistado até aqui, não
deixa dúvidas de que os planos traçados, em breve podem se tornar realidade.
Veja alguns lances de
Thais:
Imagens: Acervo pessoal/Thais Reiss
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